Os últimos eventos "de certa forma confirmam algo que estamos dizendo há tempos: que, para além das variabilidades naturais que levam aos eventos extremos, existe uma contribuição ou influência humana", afirma a matemática, que hoje atua como presidente do Comitê de Direção do Sistema Global de Observação do Clima, à BBC News Brasil.
Ainda segundo Krug, apesar da chamada ciência da atribuição climática - que estuda o impacto da atividade humana na probabilidade de ocorrência de fenômenos específicos - ser ainda muito nova, as relações respaldadas pelo IPCC indicam que fortes precipitações como as observadas atualmente podem se tornar mais recorrentes.
"Infelizmente, acredito que há uma probabilidade muito grande de que esses eventos voltem a ocorrer de uma forma mais frequente e intensa", diz.
O IPCC é um grupo de cientistas definido pelas Nações Unidas que monitora e avalia a ciência relacionada às mudanças climáticas.
Em seu relatório, o IPCC aponta a contribuição humana para o aumento das chuvas na região chamada de Sudeste da América do Sul (SES), que engloba não apenas o Rio Grande do Sul, mas também outros Estado da região sul do Brasil e algumas áreas de nações como Argentina e Uruguai.
A SES é a única que engloba o Brasil onde o IPCC detectou evidências de fortes precipitações relacionadas à ação humana.
O painel classifica sua conclusão como de "baixa confiança", mas segundo Krug esse é o maior nível de evidência disponível atualmente para a região devido à dificuldade dos cálculos envolvidos.
Mercedes Bustamante, professora da Universidade de Brasília (UnB) e colaboradora de alguns dos relatórios do IPCC, também vê fortes indícios da influência das mudanças climáticas provocadas pelas atividades antrópicas nas chuvas que provocaram 83 mortes e afetaram 345 dos 497 municípios gaúchos.
Segundo a ecologista membra da Academia Brasileira de Ciências (ABC), o Rio Grande do Sul sempre foi o ponto de encontro de sistemas tropicais e sistemas polares, o que cria um padrão que inclui períodos de chuvas intensas e outros de seca.
E a tendência é que essa alternância continue se repetindo, mas com cada vez mais intensidade.
"Essa é uma região onde vamos viver muito mais extremos, segundo os modelos climáticos", diz a especialista.